domingo, 27 de maio de 2012

Infanticídio é arma na competição entre animais, dizem cientistas


O infanticídio pode ser um instrumento eficiente para a sobrevivência de determinadas espécies de animais, afirmam cientistas.
A ideia pode ser chocante do ponto de vista humano, mas a realidade é que, para muitos filhotes de animais, a maior ameaça à sobrevivência vem de sua própria espécie. É o caso dos leões.
BBC
Leões matam cria para garantir que liderança de grupo não seja ameaçada por novos machos no futuro
Leões matam cria para garantir que liderança de grupo não seja ameaçada por novos machos no futuro
"Não é como um ato de predação, que é silencioso", explica o especialista em leões Craig Packer, da University of Minnesota, em Falcon Heights, nos Estados Unidos.
"Durante o infanticídio, há rugidos", conta, descrevendo como leões adultos matam filhotes. "Eles mordem (os filhotes) atrás da cabeça e na nuca e esmagam seus abdomes."
O infanticídio tende a ser pouco estudado enquanto recurso para garantir a sobrevivência dos mais fortes em uma determinada espécie. Entretanto, há registros de que a prática ocorre entre roedores e primatas, peixes, insetos e anfíbios.
VANTAGENS
Segundo estudos, o infanticídio pode trazer benefícios às espécies animais que o cometem, como maiores oportunidades para que o infanticida se reproduza e mesmo na alimentação (quando o infanticida come o filhote morte).
O infanticídio também é uma maneira de evitar que os pais tenham de investir energia para cuidar da cria e é, com frequência, cometido por machos adultos.
Normalmente, a proteção que um filhote recebe do pai cumpre um papel importante em assegurar a sobrevivência do bebê. Mas quando novos machos entram em cena, tudo pode mudar.
Os machos recém-chegados tendem a derrubar os machos pais de suas posições no topo da hierarquia do grupo.
Se eles conseguem ferir, expulsar ou até matar um macho que ocupava uma posição dominante no grupo, tomando o seu lugar, os filhotes do antigo líder passam a correr grande risco.
Isso acontece porque machos recém-chegados com frequência têm apenas um objetivo: ter seus próprios filhotes com a mãe.
Em sociedades de leões, por exemplo, matar filhotes faz com que suas mães voltem a ficar férteis mais rápido, aumentando a chance de que os novos machos se reproduzam.
E se não matam filhotes alheios, correm o risco de que os filhotes do antigo líder cresçam e deem o seu próprio golpe.
AS MÃES TAMBÉM
Mas o infanticídio não é cometido apenas por animais machos. Fêmeas também o praticam, diz o zoólogo Tim Clutton-Brock, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. "Fêmeas matam os filhotes umas das outras com a mesma prontidão."
Ratas matam as crias de outras fêmeas para se alimentar e se apoderar dos ninhos para criar seus próprios filhotes. Elas também matam sua própria cria se ela tem alguma deformidade ou ferimento. Isso permite que concentrem seus recursos em outros filhotes, os sadios.
O infanticídio também pode aumentar o sucesso reprodutivo de um animal, reduzindo a competição para os filhotes do infanticida.
Besouros fêmeas matam as larvas de suas rivais para assegurar que suas próprias sobrevivam.
Esse comportamento foi observado também em mais de 40 espécies de primatas, mas, em muitas dessas espécies, as fêmeas usam estratégias para reduzir os riscos de que ele ocorra, segundo um estudo publicado na revista científica "Journal of Theoretical Biology".
A saída utilizada por essas fêmeas é o acasalamento com parceiros múltiplos para gerar o que os especialistas chamaram de "confusão de paternidade". Ou seja, os machos não sabem quem é o o pai do filhote.
Isso dá aos filhotes maiores chances de sobreviver quando novos machos tentam se integrar no grupo.
"Em um grupo com múltiplos machos, em primatas como os babuínos, se dois machos se acasalam com a mesma fêmea e nenhum sabe quem é o pai do filhote, isso reduz o risco de infanticídio", esclarece Clutton-Brock.
SURICATOS
Quando há mudanças na hierarquia de dominância, "o infanticídio ocorre apenas quando a chance de o assassino ser o pai do próximo filhote é alta", cita o estudo.
Os suricatos (mamíferos pequenos e altamente sociáveis que habitam regiões inóspitas) se reproduzem de forma cooperativa, ou seja, se um macho alfa e uma fêmea alfa se reproduzem, outros integrantes do grupo em posições de subordinação ajudam a criar os filhotes do casal alfa.
Fêmeas dominantes matam filhotes de subordinados e os próprios subordinados, se tiverem cria própria, podem também matar o filhote de uma fêmea dominante.
Suricatos machos, no entanto, não sujam suas patas com o sangue de filhotes. Clutton-Brock explica: "Eles não apresentam (comportamento) infanticida porque assim que (as fêmeas) têm filhotes, ficam prontas para se acasalar novamente. Então, matar crianças não interessa aos machos".
Uma situação que contrasta bastante com a dos leões, em que as fêmeas passam quase 18 meses amamentando após o nascimento dos filhotes.
Sabe-se que machos nômades, ou coalizões de machos competindo pelo controle de matilhas, matam filhotes com o objetivo de fazer com que a mãe volte a ficar fértil. Desta forma, podem se reproduzir com ela.

Fonte: Folha.com

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