quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O caminho da água até chegar a nossas torneiras. Parte 2 de 4


Saiba como a água é tratada nas estações, como é a maneira correta de limpar velas de filtro em casa, qual é o risco de bebedouros públicos à saúde do cidadão e muito mais.


            O Jornal Nacional apresenta, nesta semana, uma série de reportagens sobre a água. Nesta terça, o repórter Luís Gustavo vai mostrar o caminho que ela percorre até chegar às torneiras. Uma comodidade que quase 20% dos brasileiros ainda não têm.

             É de carroça que Dona Terezinha vai três vezes por dia até o córrego mais perto de casa. A água é turva, barrenta, mas no sertão da escassez, é assim que se lava as panelas e se mata a sede. “É muito triste, mas fazer o quê? Infelizmente é essa que a gente tem”.
             Dona Terezinha ferve a água, mas poderia eliminar mais bactérias se além do fogo usasse uma receita simples e caseira. “O ideal é você usar duas gotas de água sanitária para cada litro de água. Você esperaria meia hora, para poder reagir, oxidar e matar essas possíveis bactérias que nós vamos encontrar”, ensina Aires Horta, gerente de qualidade de água da Copasa.
             Na maioria das cidades, a água que os moradores tomam vem dos córregos, rios ou represas, e quase sempre chega às estações de tratamento cheia de impurezas.
              Até ficar pronta para ser consumida, essa água imunda tem que percorrer um longo caminho. Passa por inúmeros filtros, por um processo de decantação para sujeira ficar retida em tanques e recebe produtos químicos como flúor e cloro.
             Três horas e meia depois, a transformação. Aquela água barrenta fica limpa, potável e em adutoras é levada até as torneiras dos consumidores.
             “A rigor, a água que é fornecida pela empresa de saneamento, pela prestadora, ela tem que ser potável. Eu poderia tomar água de torneira sem problema”, disse Valter Lúcio de Pádua, professor de Engenharia Sanitária da UFMG.
             Mas quem tem essa coragem? Precavido, o consumidor prefere ter filtros em casa e, muitas vezes, nem se preocupa em limpar.
            “A gente já pegou um caso de uma vela de um filtro que durou 18 anos. Na verdade, não estava filtrando mais, mas, o cliente veio trocar a vela porque quebrou”, contou a comerciante Daniele Lima.
             O ideal é fazer a limpeza das velas pelo menos duas vezes por mês. Mas não daquele jeito que a vovó ensinou. “Passo açúcar e passo escova. É assim que eu limpo. Não é assim?”, pergunta uma senhora.
              Por incrível que pareça, não. “Muitas vezes, ao fazer isso, a gente vai desgastando um pouco a vela. Então, o que se recomenda é sempre fazer a limpeza da vela utilizando uma bucha comum e sabão”, explicou Valter Lúcio de Pádua.
              Dona Joana toma esses cuidados e, depois de cada limpeza, ainda faz um teste para saber se a vela está funcionando direito. “Quanto menos pinga, mais filtrada a água fica”.
              Os bebedouros públicos muitas vezes precisam de adaptações. Um aposentado quase encosta a boca num deles. Repare que a água que cai da boca volta para dentro do bico.
             “Esse jato deveria de ser inclinado para que na hora em que a pessoa toma água, o resto da água não volte, não faça contato com o que vai sair de novo nesse jato”, explica uma mulher.
               Pela lei, as companhias de saneamento são obrigadas a fazer análises da água distribuída à população. O consumidor tem que ser informado sobre o resultado dos exames. Em Belo Horizonte, os dados são divulgados na internet e na conta mensal. Mas o compromisso das empresas com o tratamento termina na torneira. Dentro de casa, a responsabilidade é do morador.
              “A caixa d'água tem que sofrer uma higienização pelo menos duas vezes por ano. A caixa d’água aberta é uma fonte de contaminação por fezes de pássaros e, eventualmente, de outros animais, além de ser um ambiente propício para o crescimento do mosquito da dengue”, declarou o médico infectologista Carlos Starling.
               Mesmo a água que vem direto das nascentes, por mais pura que pareça, também precisa ser analisada. Em Poços de Caldas, sul de Minas, os exames são feitos toda semana. “Uma água que pode ser consumida sem ser filtrada, sem ser fervida, uma água natural”, garante uma mulher.
               Um privilégio para os moradores que não precisam gastar um centavo para ter água de qualidade o tempo todo. “Para cozinhar, para fazer café, suco, para tudo. Praticamente o consumo é só essa água. A comida fica mais saborosa”, afirmou a dona de casa Tânia Luzia da Silva.
                A partir do ano que vem, fabricantes e importadores de bebedouros, filtros e purificadores terão que obter certificados do Inmetro.

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