sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Expedição revela biodiversidade das montanhas do Atlântico

Cordilheira no fundo do mar é um oásis da vida pouco conhecido pelos cientistas.

A mil quilômetros da costa brasileira há uma montanha. Totalmente submersa, seu topo fica a 580 metros da linha d'água, isto numa região em que a profundidade é de cerca de 4 mil metros, na altura do Rio Grande do Sul. A chamada Elevação do Rio Grande, do tamanho do estado da Bahia, faz com que o local seja um oásis da vida marinha ainda desconhecida dos cientistas. Uma expedição de pesquisadores brasileiros esteve lá entre os dias 7 a 15 de novembro, saindo de Itajaí e voltando ao Rio de Janeiro, para estudar a biodiversidade de águas profundas, que tem potencial para a biotecnologia e a compreensão de processos climáticos associados ao aquecimento global, como a absorção do CO2.



"Coletamos dados físicos, de circulação de água e de correntes. Tentaremos entender se a montanha afeta o padrão de circulação de água profunda", diz o oceanógrafo José Angel Alvarez Perez, coordenador do Grupo de Estudos Pesqueiros, do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar), da Univali, de Santa Catarina. "Estimaremos a concentração de nutrientes, clorofila e bactérias, além de saber o que elas podem fazer."


Os dados coletados ainda estão sendo processados pelos pesquisadores. Um relatório preliminar deverá ser publicado no começo do ano que vem e, provavelmente no meio de 2012, sairá outro mais completo. Durante a expedição, os cientistas avistaram mais baleias e aves próximas à montanha do que em outras áreas de alto-mar, indicando a maior presença de vida próxima à elevação de terras sob o mar. O projeto, chamado de Mar-eco Atlântico Sul, integra a nova fase do Censo da Vida Marinha.

A Universidade do Vale do Itajaí (Univali), de Santa Catarina, é a instituição que lidera o projeto. Parceria feita com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Marinha do Brasil permitiu o uso do navio oceanográfico Antares. Os pesquisadores querem repetir a expedição no ano que vem para realizar outros tipos de coletas de dados.

"Existe uma tendência mundial de se conhecer as águas profundas. É para lá que vai o CO2 produzido pelo homem. Há uma corrida mundial para compreender o funcionamento da vida no mar profundo de forma a preservar os serviços que ela oferece para a Humanidade, tanto em relação à diversidade como suas possibilidades biotecnológicas", explica Perez.

Amostras de água foram coletadas em diferentes profundidades, entre 500 e 3.600 metros de profundidade. Também foram observadas aves e mamíferos marinhos. Os pesquisadores acreditam que a montanha pode exercer uma influência em toda a coluna d'água. "Temos que apurar as informações obtidas, mas a nossa impressão inicial é que realmente a vida lá é diferente", afirma o oceanógrafo.

A Elevação do Rio Grande, no lado Oeste, e a Cadeia Walvis, no Leste do Atlântico Sul, são cadeias de montanhas perpendiculares que ligam o centro do oceano até a margem dos continentes, tanto no litoral brasileiro como na costa da África. Os pesquisadores acreditam que ambas as cadeias influenciam a circulação da água profunda no sul do Oceano Atlântico. Sendo assim, podem ter relevância na dispersão da vida marinha em grandes profundidades. Estas são regiões geralmente pobres em nutrientes. Porém, a presença da montanha pode aumentar a oferta de alimentos, que sustentem grandes cadeias alimentares.

Já o Censo da Vida Marinha teve os primeiros resultados divulgados ano passado. O estudo permitiu a descoberta de 6 mil novas espécies em potencial e ajudou a avaliar como a atividade humana está afetando ecossistemas marinhos inexplorados.

(O Globo)

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